Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

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domingo, 1 de novembro de 2015

Resenha de Filme - Nosferatu, de Werner Herzog.

Nosferatu, O Vampiro Da Noite, De Werner Herzog. Expressionismo Falado.
O cineasta alemão Werner Herzog é um dos grandes nomes do cinema, responsável por bons filmes como “Aguirre, a Cólera dos Deuses” e “Fitzcarraldo”. Juntamente com o ator Klaus Kinski, ele fez uma parceria de sucesso, cuja amizade passava às vezes por sérias turbulências, como é visto no documentário de Herzog “Meu Melhor Inimigo”, que fala do relacionamento entre os dois. Um grande exemplo do êxito da dupla Herzog-Kinski é a versão realizada por eles do clássico do expressionismo alemão “Nosferatu”, de Murnau. Enquanto que o clássico do cinema foi realizado em 1922 e era mudo, a versão de Herzog-Kinski foi realizada no ano de 1979, contando com as presenças de um jovial Bruno Ganz (que interpretou Adolf Hitler em “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”) e uma deslumbrante Isabelle Adjani (o filme é uma co-produção alemã e francesa, com versões em alemão e inglês). O Instituto Moreira Salles, lá na Gávea, exibiu a versão de Herzog de “Nosferatu” e eu fui lá, à caça desse vampiro.
Herzog cravejou o filme de pedras preciosas. Em seu início, sob uma música altamente soturna, vemos todo um rosário de corpos mumificados. As imagens foram tomadas no Museu de Guanajuato, México, e os corpos de faces aterrorizadas são de vítimas de uma epidemia de cólera em 1833. São imagens muito impactantes que, alternadas com a imagem de um enorme morcego voando em slow motion, representavam, em todo seu desfile de horror, o pesadelo de Lucy (interpretada por Isabelle Adjani) num presságio de toda a agonia que ela, seu marido Jonathan (interpretado por Bruno Ganz) e toda a sua cidade passarão num futuro bem próximo.
A fotografia da película é de tirar o fôlego, sobretudo nos passeios à praia próxima à cidade de Jonathan e Lucy, na viagem de Jonathan ao Castelo do Conde Drácula, nas cenas da cidadezinha do casal, em desfiles de caixões cujas mortes foram trazidas pelo vampiro na forma de uma praga. E ratos, muitos ratos (cerca de onze mil)! Ainda bem que eles não cobraram cachê, caso contrário a produção teria ido a falência (Infelizmente existem denúncias de que houve maus tratos não somente aos ratos, mas também a outros animais que fizeram parte do filme, sendo um destaque negativo para a produção). As imagens das pessoas cantando e bebendo nas ruas, contaminadas pela peste, em meio a caixões, mesas fartas a céu aberto e os ratinhos devorando tudo o que viam pela frente, inundando as mesas cheias de sobras, foram soberbas e devem ter dado muito trabalho.
O filme deixa bem clara a influência do “Nosferatu” original, de Murnau. Muitas cenas e sequências do clássico mudo expressionista foram reproduzidas e adaptadas para o cinema falado e em cores, usando as vantagens de uma tecnologia que não existia nos anos 20. O próprio formato do cinema da época, em 16 quadros por segundo, que tornava a imagem mais rápida, caricata e risível, prejudicava o gênero do terror. Na versão de Herzog, colorida, falada e em 24 quadros por segundo, essa sensação de desconforto desaparece. O estilo de interpretação expressionista, altamente antinatural, com o propósito de expressar intensos estados emocionais (paroxismo) é um tanto relativizado na versão de Herzog, com um estilo ainda expressionista de interpretação, mas mais cadenciado, cabendo a Adjani as interpretações de maior carga emocional. A maquiagem da atriz, com o rosto muito branco, sombras negras sobre os olhos azuis e uma longa cabeleira negra, é referência direta ao claro/escuro expressionista e uma cópia totalmente intencional do ponto de vista estético da personagem Ellen, interpretada por Greta Schröder na versão original de Murnau. Ganz, por sua vez, teve uma atuação mais contemporânea e contida, embora as cenas em que o vampiro o atacava fossem de um conteúdo altamente expressionista na atuação, com o ator se assemelhando muito fisicamente ao ator Gustav von Wangenheim, da versão original de Murnau. E Kinski? O homem foi simplesmente um show! Reprodução fiel de Max Schreck quanto à estética, Kinski foi além com o vampiro, numa interpretação altamente contida com falas soberbas (sua digressão sobre os sentimentos da prisão de uma vida eterna e solitária nas trevas, onde nada acontece, vendo-se somente o tempo passar em toda a sua eternidade é memorável!). E uma teatralidade poderosa! Seu gestual ao atacar Jonathan é de grande expressividade e plasticidade, com braços arqueados e unhas gigantescas realçando o desenho descrito pelos braços, sendo uma herança expressionista direta. Ainda, e em contrapartida, a forma como ele chupa o sangue do pescoço de Lucy, com uma leveza e suavidade muito bem calculadas, é mais uma prova da homenagem ao expressionismo por Herzog em sua versão (a antítese entre o violento e expressivo e o suave e o delicado). O filme ainda tem outros elementos expressionistas interessantes. A viagem de barco do vampiro com seus caixões adquiriu uma nova roupagem, com tomadas aéreas do barco no mar, algo que não acontecia na versão de Murnau, onde somente víamos praticamente as velas da embarcação, tornando, inclusive, a imagem esteticamente muito opressora. Por outro lado, as virtudes da tecnologia deram grande contribuição a um importante elemento expressionista: a sombra. Na versão de Murnau, fica muito difícil colocar o vampiro carregando o caixão à noite. Assim, vemos Max Schreck travestido de vampiro carregando seu caixão em plena luz do dia sob um sol inclemente e com uma expressão engraçada no rosto, hoje em dia soando a sequência antiga de forma mais cômica do que para botar medo. Em Herzog, porém, a sequência pôde ser filmada à noite, com todos os efeitos de claro/escuro que ele quisesse e grandes tomadas de sombras, onde refletores estrategicamente colocados faziam com que a sombra do vampiro crescesse ao tamanho de fachadas inteiras de prédios. Herzog também usa sombras na sequência em que o vampiro ataca Lucy, se bem que agora não há mais a famosa cena em que a sombra da mão do vampiro “pega” o seio da mocinha, dando à personagem uma expressão de prazer cheia de paroxismo. Em Herzog, Lucy está imóvel, passiva, atraindo o vampiro para os primeiros raios de sol do amanhecer, e o monstro coloca a própria mão sobre o seio da sua vítima de forma inteiramente não vulgar, dada a maestria da interpretação de Kinski. Aliás, a morte do vampiro não foi como em Murnau. Se na versão muda o vampiro desaparece numa fusão de imagem, na versão de Herzog Drácula agoniza, sofre e seu corpo cai morto com olhos estatelados cobertos por lentes de contato brancas retirando-lhes a pupila e a íris, o que acabou sendo uma morte muito mais dramática e impactante visualmente.

Dessa forma, “Nosferatu, O Vampiro Da Noite”, de Werner Herzog, é uma grande adaptação do clássico de Murnau (não devemos nos esquecer da versão estrelada por Willen Dafoe, mas isso fica para uma outra ocasião). Suas grandes virtudes residem no fato de que há uma boa e intensa homenagem ao cinema expressionista alemão da década de 20 e a tecnologia foi usada para aguçar ainda mais a linguagem expressionista. Por se tratar de um gênero antigo com uma técnica cinematográfica considerada ultrapassada, há sempre o medo de uma nova versão se tornar apenas um decalque da original e ficar demasiadamente forçada e piegas, mas não foi o que aconteceu aqui. Herzog destilou seu grande talento e competência, produzindo uma homenagem à altura para o clássico de Murnau. Filme para ver, ter e guardar.

Cartaz do filme

Um morcego aterrorizante

Corpos mumificados reais

Um vampiro entediado com a eternidade

É dura a vida de um corretor de imóveis

Ataque do vampiro a Jonathan. Homenagem ao expressionismo

Comparem com a cena da versão original...


Outra referência expressionista: claro/escuro na maquiagem

Buscou-se semelhança com a mocinha original...


Na versão de Herzog, mão no seio

Na versão de Murnau, a sombra da mão no seio

Antítese expressionista. Cena simultaneamente violenta e delicada


Um filme de bela fotografia

Procissões de caixões

Vampiro original...

... e na versão de Herzog. Grande semelhança!!!

Sombra como personagem expressionista na versão original...

Últimos momentos de prazer antes da morte pela praga...

... e muitos, muitos ratinhos!!!!











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